Redenção de Cam?

Texto e capa enviados por Eduarda Rodrigues ao CANALHA!

Lembro como se fosse ontem, o sol estava muito quente e aproveitei para arear as vasilhas enquanto os meninos dormiam. O silêncio era tanto que o barulho dos cascos do cavalo batendo na terra ecoava, virei e olhei o homem mais bonito que já havia visto. Um mascate preto, a sua pele brilhava debaixo da luz do sol. O seu cavalo estava com as bruacas tão cheias que parecia que a cangaia poderia arrebentar a qualquer momento.

— A dona vai querer alguma coisa hoje?

— Quero não, muito agradecida!

Enquanto colocava as vasilhas para secar no jirau imaginava a pele preta em contato com a minha tão branca. Meu marido estava trabalhando na pedreira com o irmão, meus filhos dormiam, ninguém saberia se eu caísse em tentação. Sequei as mão no avental e mantive meu olhar fixo no dele. Reforcei que não compraria nada, mas que achava bom ele esperar um pouco até o sol esfriar, tomar uma água fresca.

Não foi preciso falar mais nada, ele deve ter percebido o desejo nos meus olhos, quis me arrastar para o catre que eu dormia com Antonio, mas recusei, não deitaria com outro homem. no lugar que sou do meu marido.

Fomos para trás das bananeiras, não esqueço do cheiro dele, das mãos grandes e do seu toque, do sorriso em seus lábios, os dentes brancos aparecendo enquanto ele tomava para si cada parte do meu corpo.

Quando acabamos ele colocou a roupa, sem se lavar, ainda com meu cheiro no seu corpo e foi embora sem olhar para trás. Até hoje não apareceu mais por essas bandas.

Meses depois minhas regras atrasaram, mas tentei não me desesperar, a criança poderia ser do meu marido e mesmo se fosse do mascate talvez o meu sangue fosse mais forte e a cor branca do nascituro me salvaria.

Depois que coloquei o menino para fora de mim, a parteira me olhou com olhos de espanto e de repreensão, como poderia uma mulher e homem brancos fazer uma criança tão pretinha?

Agora estou aqui com esse menino preto nos meus braços, a prova da minha fraqueza, o sinal que não fui fiel ao meu marido que é um homem tão bom para mim.

Antônio é um homem tão bom que me aceitou dentro de casa, mesmo com toda a fofoca sobre o caso. Eu sei que se estivesse casada com outro estaria morta agora.