Qual segurança o cruspiano quer?
Os moradores do CRUSP receberam uma notícia preocupante no mês de julho. A PRIP se pronunciou a respeito do mais novo projeto que visa implementar controle de acesso na moradia, por meio de portões e grades nas portarias de todos os blocos.
Desde que tomaram conhecimento do projeto, muitos moradores já se mostraram contrários a essa medida, que foi vista como mais uma forma de controlar autoritariamente os estudantes que moram na universidade. Além de implementar um controle de acesso, esse projeto propõe um controle das visitas aos cruspianos, e do tempo em que essas visitas podem permanecer nos apartamentos.
Outro ponto que preocupa é a forma como os moradores irregulares seriam afetados por essa medida, que impacta diretamente sua permanência na moradia. Tanto os moradores irregulares com vínculo com a USP quanto os sem vínculo seriam barrados de entrar nos blocos uma vez que os portões fossem instalados.
Além disso, existe uma questão diretamente relacionada à segurança dos moradores, no caso das saídas de segurança nos prédios. No CRUSP, as escadas de incêndio chegam apenas até o 1° andar, o que dificulta uma evacuação rápida no caso de uma tragédia.
SEM DIÁLOGO
O debate sobre a instalação de grades na moradia foi cercado de dúvidas e receios por parte dos próprios moradores. Mas, ao contrário de tentar estabelecer um contato e diálogo saudável com os estudantes, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento tem adotado até agora uma postura evasiva e autoritária que não demonstra disposição em considerar nenhum levantamento dos moradores sobre quais medidas devem ser tomadas no que se refere à melhoria da vida no CRUSP, nem sobre uma das questões mais latentes em relação à instalação dos portões: a situação dos moradores irregulares.
“Eles não procuraram uma forma de resolver a questão dos irregulares também. Rodearam esse tema o tempo inteiro nas duas reuniões e não deram uma resposta verdadeira sobre isso”, disse Matheus Freire, da atual gestão da AMORCRUSP, ao jornal CANALHA!
OCUPAÇÃO DOS BLOCOS E SEMINÁRIO DE SEGURANÇA
Diante dessa falta de diálogo e da postura autoritária da PRIP, os moradores decidiram, por meio de assembleia, iniciar uma ocupação no térreo dos blocos F e G — esses que seriam os primeiros a receber as grades — para garantir que nenhuma política de segurança fosse imposta sem que os moradores tivessem a clareza da proposta. A ocupação foi muito vitoriosa, sendo responsável por impedir a implementação da medida de controle de acesso por meio de grades.
Isso mostra que a luta dos estudantes traz grandes frutos quando é organizada de maneira coletiva e consequente, além de impor derrotas a essa burocracia universitária que pouco se importa com a vida dos cruspianos. Outra conquista dos moradores foi a realização do 1º Seminário de Segurança do CRUSP, promovido pela Associação de Moradores (Gestão Ísis Dias de Oliveira). O seminário foi importante para debater não apenas a dicotomia de grades ou não grades, mas também para avançar no debate sobre o que seria segurança para as famílias do CRUSP, para as mulheres, pessoas neurodivergentes, etc. Dessa forma, o debate sobre segurança pode avançar em diversas direções, ouvindo as necessidades mais urgentes dos estudantes residentes no conjunto residencial.
UM CHAMADO
Dadas as condições em que os moradores se encontram, com a reitoria usando toda a sua estrutura e poder para impor decisões totalmente antidemocráticas, fica a pergunta: “Temos realmente poder para barrar alguma medida da PRIP?”, “O que nós podemos fazer?”, ou até mesmo “O que eu posso fazer?”. Questões como essas costumam surgir e realmente afetam a mobilização popular, de tal forma que muitas vezes não há resistência a medidas administrativas que afetam de maneira injusta as pessoas mais afastadas das esferas deliberativas. No CRUSP, isso acontece com muita frequência, visto que, desde o ano passado, muitas pessoas foram despejadas de suas casas, calouros dormiram por meses embaixo do estádio do CEPE e seriam jogados na rua pela universidade. Mais recentemente, muitos alunos no CRUSP perderam seus auxílios repentinamente e lutam para reaver seus direitos.
No entanto, existe entre nós uma arma muito efetiva na luta contra os desmandos da reitoria: o coletivo. E, em toda a USP, ninguém é mais provido de companheirismo do que os estudantes que habitam esse espaço. Quantas vezes você não viu nos grupos de WhatsApp alguém precisando de algo emprestado ou quantas vezes, em um final de semana, você não participou de um racha com amigos para conseguir comer?
De forma objetiva, o CANALHA! faz um chamado para que todos se unam à luta dos cruspianos por melhores condições de vida dentro da moradia. É fundamental reconhecer no vizinho um companheiro, que, ao lado de todos, pode conquistar aquilo que a universidade insiste em negar: o básico.
Foi por meio do coletivo que, este ano, os novos calouros que precisavam da moradia estudantil não foram jogados na rua assim que pisaram na USP, no dia da calourada! Foi por meio do coletivo que despejos injustos não ocorreram durante a noite. Foi por conta das movimentações da greve do ano passado que os jantares aos sábados foram conquistados. Não é o ideal e não resolve nosso problema, mas, juntos, podemos conquistar os jantares todos os dias, sem que haja exploração dos trabalhadores.
Somente exercendo o espírito de solidariedade que poderemos impor derrotas aos nossos algozes, como fizemos ao longo desse ano, e conquistar um CRUSP democrático e digno para os estudantes.